sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O QUE SOMOS?

As vezes, deitada em minha cama, me pergunto entre perplexa, curiosa, com certa repulsa, triste, indignada e revoltada, ao mesmo tempo: - "A verdadeira essência da vida deveria nos revestir de uma paz infinita, com o coração transbordando de tanta ternura ( a mesma que me transmite as valsas de Strauss.... 
 
 
 Que magia entra dentro do meu cérebro, como agora, escutando "Conto dos Bosques de Viena". Sinto-me o próprio amor a emoldurar todo o meu ego, me enxergar no espelho da minha alma, dentro de um vestido de um branco resplandecente, de um farto godê, enfeitado de rendas e pedras cristalinas. Nos cabelos uma tiara de violetas brancas, essa flor pequena e encantadora. Vejo-me, na transparência da minha alma, o meu rodopiar, sobre eu mesma; serena, com os lábios se abrindo num meigo sorriso, me sentindo quase voando naquele compasso, de mãos esticadas, dentro de um suave par luvas, que deixam os dedos pequenos à mostra.
 
 
 Fecho meus olhos e me enxergo valsando, como se meu par fosse a esperança gentil, que me levita , que me faz deleitar de tanta emoção que, como num passe de mágica, enviou-me para um campo de guerra, onde todos os sentimentos se debatem para vencer-me. Meu Deus, como aquela valsa me deixou exausta e sem a minha esperança, a única que me restava de suporte.
 
 
 Estou quase nua pois sentimentos malignos rasgaram meu vestido de pureza. Em minha mente mil pensamentos se desencadearam e estão me deixando vacilante mas, tentando relutar; fazendo um esforço imenso para tentar renascer e conseguir ultrapassar o cristalino da minha alma, pegar a mão do amor e trazê-la para o meu coração, para acalmar o meu corpo. E me pergunto, triste e curiosa, ao mesmo tempo: ´"O que somos?"
 
 
 "Para que viemos, se vamos embora tão depressa que não conseguimos entender, pelo menos, as essências que têm prioridades em nossa vida, que é a felicidade, a paz, o amor (esse que sempre me refuga pela falta dele quase morri), a serenidade de se desobrir por inteira e dedilhar o ser amado como se ele fosse um piano e não um teclado de computador que desde que o adquiri, estou nesse horrível campo de batalha que está me enfraquecendo e sem vontade de continuar batalhando pelo meu paraíso terrestre que são dados de presentes a muitos seres (puros de corpo, alma e coração)... O que há de errado comigo? Por que o amor é mentiroso?... Engana-me!
 
 
 Abandona-me ao destino cruel da solidão? Que posso fazer mais, "Senhor, meu Deus e meu Pai"? Como poderei aliviar o sofrimento de outros anjos (sim, pois todas as mulheres maltratadas impiedosamente, sem que elas saibam a razão, que são feridas e, algumas até perdem o coração... são anjos; porque só eles são capazes de suportar tantas dores e tantos desafetos), pois as mulheres que têm esse destino que machuca e sangra, são verdadeiros querubins e sofrem calados.
 
 
 Ninguém nunca me pediu ajuda... Nada! O que somos? Instrumentos quebrados que não têm mais serventia, por terem passado bem perto do inferno ou além dele? O que me diria você, se eu lhe dissesse: - Não tenha medo, eu posso fazer alguma coisa em seu benefício. Passei por sofrimentos tão grandes que pensei não sobreviver a eles que quase me levaram para sempre. Essa tempestade passou; está lá atrás; mas vontade de brilhar, como o mais lindo dos astros, só para iluminar o caminho de todas vocês.
 
 
 E, como já disse, eu sou toda amor, toda ternura, toda suavidade (a maldade me tornou um ser de alma que levita). Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa, que sonhamos toda arreada de dourados pomos, existe, sim: mas nós não a alcançamos porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos.



Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

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