sábado, 22 de fevereiro de 2014

O RESPLANDESCER DE UM POSSÍVEL AMANHÃ...


Muitas vezes me deixo levar pelos pensamentos (feios por fora e, deliciosamente, belos por dentro). É uma mistura que não combina nem um pouco; como misturar água e óleo. Queria que, na minha vida, o amor fosse somado, as esperanças multiplicadas, as tristezas subtraídas, as recordações divididas e o amor adicionado. É tão pouco... Tão simples... As lembranças são tão repulsivas que insistem, a cada minuto, são mais grotescas e mais difusas dentro do meu cérebro, a cada dia que passa. Nunca pensei que uma mutilação psicológica e uma ferida em seu órgão mais sagrado pudesse resultar em um estrago tão grande dentro do meu ser. Fisicamente sou perfeita; não fiquei com nem uma sequela, daquele dia horripilante, macabro... Mas creio que a dor emocional e o medo jamais nos abandonam.


 A violência não é uma doença, no entanto propicia doenças emocionais, tais como estresse, Baixa autoestima, depressão, ansiedade, disfunções sexuais, distúrbios alimentares, problemas de saúde coletiva e também da assistência à saúde das mulheres. Mas, infelizmente, ainda não é vista como tal. Muitas das mulheres da violência domésticas adaptam-se às mais diversas violências, passando a não se valorizar mais, não acreditam em seu potencial e não buscam ajuda. A violência chega ao ponto de afetar o discernimento a respeito do caráter destrutivo destas relações a ponto de se permitirem cair na sedução, apesar de muitas vezes saberem que podem se machucar, porém sonham, idealizam e negam-se a ver a realidade. No contexto de atendimentos à saúde, por exemplo, é muito difícil que a violência doméstica, apareça com clareza durante os atendimentos, e mais ainda que esse problema seja abordado pelo profissional, ou que seja registrado em prontuário e transformado em objetivo de alguma conduta ou encaminhamento.


 Quando mulheres que estão sofrendo violência procuram os serviços de saúde, muitas vezes não revelam espontaneamente essa situação. Isso ocorre tanto porque é bastante difícil falar sobre a violência, quando porque não tem sido esperiência das mulheres o crédito e o acolhimento diante dessas revelações nesses espaços.Desta forma, seja por dificuldades das mulheres, seja porque ainda não podem confiar nos atendimentos em delegacia ou nos serviços de saúde, as mulheres geralmente não contam que vivem em situação de violência. É importante ter em mente que cuidar da mulher e do grupo familiar a que ela pertence inclui necessariamente lidar com a violência doméstica, que é um contexto instaurador de sofrimento e doenças emocionais.


 Afinal, sem esta abordagem, o tratamento torna-se paliativo e reiterado, porque novas queixas surgem ou as antigas não desaparecem.  O primeiro passo para este cuidado é a possibilidade de relato e escuta dos episódios de violência. Para tanto é essencial que o serviço não seja violento ele próprio, com funcionários que são negligentes ou que agridem verbalmente, e até fisicamente, a população. Isso é o que tem sido chamado de violência institucional. A primeira condição para a garantia dos direitos são profissionais comprometidos e respeitosos com a população em qualquer instituição pública, governamental ou não, pois esses casos requerem uma postura ética e um acolhimento especial


.Diante deste contexto, tornar visível a violência doméstica no interior dos serviços de saúde tem sido uma preocupação de associações médicas, governos e hospitais ao redor domundo na última década. Prova disso os números de  protocolos que têm sido propostos para isso, vários deles sugerindo que a pergunta acerca dessa forma de violência, por sua alta prevalência, deveria ser feita para todas as mulheres atendidas nos serviços de segurança e saúde. Os estudos que investigam os motivos para tanto têm demonstrado que o sentimento de impotência diante dos casos, o medo de ofender a mulher ao perguntar sobre o assunto, a falta de tempo, o receio de identificar se com a situação (especialmente em pacientes próximas do ponto de vista socioeconômico) e a falta de treinamento têm papel importante nessa dificuldade. É importante ainda salientar que saber perguntar sobre agressões na família é tão importante quanto saber o que fazer quando a resposta é positiva. Por isso treinamento, supervisão e conhecimento por parte dos profissionais da rede de serviços se segurança e saúde existentes são fundamentais.


 Algumas mulheres, vítimas de violência doméstica não conhecem os seus direitos diante das situações vividas quase que diariamente. A violência doméstica é muito mais que um simples abuso físico entre casais, sendo uma  grande exposição do poder entre a pessoa que aplica a violência e seu executado. Porém diante de toda esta realidade tem que haver uma intervenção apropriada, caso contrário será um círculo vicioso onde agressor e agredido não mais cessaram tal procedimento, chegando a ponto de perder o controle como situações bem antes das agressões físicas como: - Ameaças, intimidade, abuso emocional, isolação, culpa, uso dos filhos, abuso econômico, abuso sexual e imposição do domínio masculino, seria de vital importância que as mulheres agredidas pudessem ou tivessem a coragem de enfrentar seus companheiros e tomassem finalmente a decisão de levá-lo a justiça para que a mesma tomasse as medidas cabíveis nessa situação.


 As mulheres vítimas de violência doméstica precisam perceber que não precisam estar nessa situação de vida, pois nenhum ser humano é obrigado a ser violentado fisicamente, sexualmente, financeiramente e de modo particular e emocionalmente, sem receber ajuda necessária para finalmente sair e ver que é capaz de enfrentar qualquer obstáculo pela frente. A falta de informação, insegurança, a dependência financeira faz com que muitas mulheres, vítimas de violência doméstica, desistam de tentar ter uma vida menos conturbada. Seria  essas mulheres fossem decididas para, quando chegasse o momento de sair de casa, não voltassem atrás.


 Infelizmente os relacionamentos que envolvem violências são destrutivos e muitas dessas mulheres permitem estar ou continuar nessa relação que só traz perdas, traumas, mágoas chegando a ponto de não mais diferenciarem o bom do ruim, ou seja, o que faz bem ou mal destacam que quando a mulher desvaloriza tudo o que é e  que pode realizar, é como se deixasse de ter vida própria para viver somente de acordo com aquilo que o companheiro concorda como certo e, desta forma, as mulheres abrem mão de seus “eus”, e quando chegam  a este estado de indiferença consigo mesma, perdendo o seu auto respeito e muito menos a capacidade de se amar primeiramente, e isso acontece não só porque a mulher permite que o outro não a respeite, mas sim, porque rompeu com os próprios desejos  emocionais ou qualquer outra não pode se calar, não pode fechar os olhos e passar acreditar que estar vivendo, como se viver fosse abrir mão de sonhos, crescimento, transformação e de ser respeitada como ser humano importante que é.


 A mulher agredida precisa reagir e entender que permanecer no contexto da violência doméstica é uma escolha destrutiva  que a machuca, que a faz sentir no fundo do poço, mas que também pode ensina a crescer, desde que esteja pronta. a reconhecer os erros e agir. Quando a mulher chega a esse processo, ela passa a questionar sua situação como pessoa, procura conhecer seus direitos, reúne forças recolhe os pedaços, cuida dos ferimentos e muitas delas recomeçam a viver. Para lidar com o problema da violência doméstica, sugiro  uma rota composta pelo conjunto de decisões tomadas por mulheres que vivem situações de violência e suas ações para lidar com o problema. É uma rota interativa, ou seja, vai se modificando a partir das respostas recebidas das pessoas e/ou instituições procuradas. Esta rota entrevistou em profundidade 400 mulheres, constatando que elas buscam diversas formas de apoio e meios de transformar a situação.


 O estudo identificou os fatores que facilitaram e os que obstaculizaram o processo dessa rota, como segue: No que se refere aos fatores facilitadores internos destacam se os seguintes: a) convencimento de que os recursos pessoais se esgotaram; b) saturação com a situação; c) convencimento de que o agressor não vai mudar; d) raiva e desamor e e) colocar - se metas e projetos próprios. Já quanto aos fatores facilitadores externos destacam - se os seguintes: a) a própria violência contra ela; b) a violência contra filhos e filhas; c) apoio de pessoas próximas; d) condições econômicas e materiais favoráveis e e) informação precisa e serviços de qualidade. d) amor pelo agressor; e) ideia de que o que ocorre no interior da família é privado; f) manipulação do agressor e dinâmicas do ciclo da violência e g) desconhecimento deseus direitos e falta de informação. Já quanto aos fatores obstaculiza dores externos destacam-se os seguintes: a) pressões familiares e sociais; b) insegurança econômica e falta de recursos materiais; c) atitudes negativas dos profissionais e respostas institucionais inadequadas; d) limitada cobertura desorganizações governamentais e não - governamentais de mulheres e e) contextos sociais com histórias de violência.


 Fatores como a percepção da falta de apoio, sentimento de vergonha e o desprestígio em relação ao cumprimento do papel esperado de mulher, esposa e mãe, bloqueiam internamente a decisão de sair da situação de violência .Diante deste contexto, é importante a ajuda de outras mulheres próximas. Os facilitadores mais significativos foram estes apoios, geralmente de irmãs, cunhadas e familiares, amigas e/ou agentes comunitários. Também a qualidade do cuidado recebido em instituições foi muito importam te: o encorajamento, a informação precisa, o não -julgamento e o respeito às decisões da mulher contribuíram para a continuidade para sair da situação de violência , enquanto o descaso, a burocracia e a dificuldade de acesso foram grandes inibidores.Diante a das dificuldades, muitas vezes, a busca de saídas é tardia.


 No entanto, é importante salientar que o agravamento da violência, tem se tornado um grande propulsor da mudança, conduzindo, mesmo que de forma ainda tímida, que a mulher tom e decisões por medo do que poderia vir a acontecer a ela e com seus filhos. Não é a primeira nem décima vez que argumento sobre a situação  da mulher violentada. das indiscriminação que ela sofre, perante o mundo. Já estou esgotando meus argumentos para dialogar com os responsáveis por esse assunto, nos países mais atingidos; onde a pobreza impera e a ignorância, falta de cultua imperam, por tratarem todas às mulheres como se fossem um monte de excremento de um quadrúpede. Um dia já me senti assim.... Agora espero por um possível resplandecer de um, talvez possível, amanhã....



Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

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