sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A ARTE DE MATAR MULHERES, QUE SÓ SABEM AMAR, DOAR-SE POR INTEIRO...



 Sinto-me como um invólucro de vidro de perfume, um pássaro fêmea, com a asas quebradas, para não poder mais voar, um anjo de asas arrancadas... Não sei mais o que pensar, em que ou quem acreditar; olho à minhas volta e só vejo monstros querendo me atacar. Eles estão em meus sonhos... Sonhos? Não, pesadelos. E eles me acompanham devido a minha imensa insegurança de poder confiar, me sentir segura, amada gentilmente, por um homem de verdade...


Sim, pois creio existir pelo menos um, perfeito para o que penso. encostar-me em seu corpo forte e sentir sua mão macia deslizando sobre o meu corpo trêmulo de emoção e medo. "Uma  vez, procurava um telefone público, pois não podia ligar de casa nem tinha meu celular comigo. Quando, enfim, encontrei um (estava falando com meu pai), senti algo quente em minhas costas.... Era o seu respirar de ferocidade, olhos estufados, muito abertos, parecendo um protagonista de um filme de terror. Olhei para o chão e as rachaduras do asfalto estavam cheias de sangue escorrendo. Deixei o fone cair das minhas mãos e saí correndo.


 Quando nos sentimos encurraladas, com o pressentimentos de que será morta, seus instinto de defesa dá o alarme... Cheguei à minha casa correndo e a tranquei toda. Queria me esconder do "monstro homem", do femicida. Já se passaram muitos anos e continuo insegura e pedindo a Deus a felicidade que me foi negada, pa paz que foi roubada. Tento me curar desses traumas, mesmo amando platônicamente. Sou tão inocente e acredito em quem me rotula, como um frasco de perfume francês, amando-me por dentro, que me deseja, que não saio dos seus pensamentos.... Que poderá vir me buscar e seremos felizes para sempre ou


: - Eu a amo, a desejo, sinto êxtase... Mas ele a milhas de distância e eu aqui, vertendo todas as minhas lágrimas... Ele, como todos que existem nas páginas sociais agem assim (por isso detesto chats e coisas parecidas... São os lobos em pele de cordeiro. Hoje resolvi sair da minhara prisão interior e até questionei com uma amiga. Eu escrevo mas não sou uma coluna de piadas de mau gosto.... Componho minhas poesias mas não sou um poema. Sou humana: - Tenho vontade de amar e ser amada não sufocando tudo dentro de mim...


 Com tudo bem trancado irá virar uma Caixa de Pandora... E daqui alguns anos nada mais fará sentido nem terá importância, pois quero viver e conhecer o amor do lado de fora. Eu amo, como eu amo... Por que sempre me enganam? Todo homem tem que ser assim? Creio que é assim que a maioria dos crimes são cometidos. Os chamados crimes passionais têm este nome dado pela imprensa. O que seria um crime passional? Costumam chamar de "crimes passionais" casos que teriam sido movidos por amor. Não são. Amor não mata; o que mata é a sensação de poder que o ex-parceiro tem sobre a vítima. O amor não mata. É como uma árvore frutífera: - È plantada, cresce, floresce e dá lindos frutos. Isso é amor!


Segundo dados da Organização Mundial de Saúde e do Mapa da Violência, o Brasil é o sétimo país com maior incidência de assassinatos de mulheres. São dez homicídios por dia. Ao abrir qualquer jornal, você verá notícias de algum caso "do dia". O de hoje é de Iolanda, uma jovem paulistana de 21 anos que foi atacada na academia na tarde de ontem pelo ex-namorado, com quem havia terminado o relacionamento na segunda-feira.


A imprensa costuma chamar casos como o de Iolanda de "crimes passionais", como se eles tivessem sido movidos por amor. Não são. Amor não mata; o que mata é a sensação de poder que o ex-parceiro tem sobre a vítima. O criminoso tem certeza que a vítima lhe pertence. "Se ela não for minha, não vai ser de mais ninguém." É a completa desumanização da mulher, transformando-a em um objeto sobre o qual alguém tem propriedade, pelo simples fato de algum dia eles - proprietário e objeto - terem sido um "casal".


Dizer que um homicídio tem caráter passional não serve de nada ao direito, posto que o tipo penal não reconhece a "paixão" como motivo para um assassinato. Pelo contrário: a pena pode ser aumentada se for reconhecido que o réu agiu com motivação torpe ou fútil, ou ainda sem dar possibilidade de defesa à vítima. Tramita hoje no Congresso o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher, que no seu relatório final tipifica o feminicídio, com pena de reclusão de 12 a 30 anos para assassinatos de mulheres com circunstâncias de violência doméstica ou familiar, violência sexual, mutilação ou desfiguração da vítima.


Porque os "assassinos passionais" não apenas matam suas vítimas. Eles fazem questão de torturá-las, como fez Thiago da Silva Flores, que ateou fogo ao corpo da ex-namorada Pâmela. Depois de um ano passando por diversas cirurgias e tratamentos, Pâmela faleceu em agosto. O ódio presente nos crimes que dizem serem movidos por amor é evidente. Além do uso de artifícios cruéis, como no caso de Pâmela e na própria Maria da Penha, 6,2% dos assassinatos de mulheres são por estrangulamento/sufocação, enquanto 26% são por objeto cortante ou penetrante. Facadas.


Mas a quem interessa dizer que tal crime é passional, que o réu estava sofrendo com a rejeição, ou que ele não conseguia enxergar a própria vida com a ausência da mulher amada? Com esse discurso, coloca-se o feminicídio como sendo de ordem privada; "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Assim, afasta-se a necessidade de uma discussão geral e mudança social acerca destes crimes. Parece que havia algo entre os dois que justificaria o assassinato, a tortura, a violência. Lavamos as mãos e fingimos que, se chegarmos muito perto, estaremos invadindo a privacidade daquele casal.


Um casal que não existe mais; primeiro porque a mulher quis sair, segundo porque ela foi morta por quem um dia confiou. Os perfiz dos jornais trazem  diariamente notícias sobre crimes contra a mulher. O relatório da CPMI também analisa de perto casos emblemáticos, como o do estupro coletivo e assassinato em Queimadas, na Paraíba. Na imprensa, poucos casos aparecem. Geralmente de mulheres brancas, jovens, de classe média, quando, segundo o IPEA, 61% das mulheres assassinadas são negras. A própria imprensa inviabiliza outros recortes sociais que são vistos no feminicídio. Amor não mata. Machismo, sim.
 
 
 
Testo de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

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