quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

"CULTURA E FEMICIDIO"

"A realidade passa, os pensamentos persistem: os sonhos ficam como experiência, para prolongar nosso sofrimento dos momentos felizes que vivenciamos, para congelarmos uma imagem que deleitou o coração, como a que beijei a llamita nos lábios, porque um ser irracional tem a capacidade de sentir em seu coração selvagem o amor que sentimos pela fauna, pela flora e de todos os seres que estão contidos dentro dela.
 
 Realmente vivi uma experiência mágica que, se pudesse queria poder ficar aprisionada dentro de algum templo inca, convivendo com seus espíritos cheios de magia, naquela cultura incrível. Eu me senti uma verdadeira “princesa inca” pisando naquele solo sagrado onde nenhum outro pensamento se sobrepôs sobre o que eu conseguia capital de séculos atrás.
 
 É uma energia maravilhosa que sempre estará e viverá dentro da minha alma, dando suporto ao meu coração que tem por único poder, se sustentar nas velhas histórias do tempo. Cultura nunca é demais, mas nos separa dos que possuem menos conhecimentos. Quem não conhece todas as pedras de Cuzco, de Macchu Picchu, que não caminhou  durante quatro dias a “Trilha Inca”, acari nego que  caminharmos nos leva a pensar, sonhar (mas os sonhos são como fumaça), idealizando cada lembrança, sorvendo cada pedaço de magia que o tempo não levou, preservando para que nossos olhos se deliciasse até com as imagens mais simples, que não tem estudo ou arqueólogo que explique corretamente toda aquela arquitetura, cuja medida  base era o próprio corpo tão pequeno. Suas construções são simetricamente corretas; suas janelas têm exatamente a mesma metragem de uma para outra.
 
Abalos sísmicos não derrubam aqueles monumentos, feitos, em sua maioria, pedra sobre pedra – sem nenhuma colagem ou aderência -; não têm suas terminações retas e sim inclinadas para que nenhum abalo as danifique (porque esse sistema de construção faz com que as pedras dilatem e voltem para o mesmo lugar. Os incas eram mumificados na posição fetal... Talvez para serem eternas crianças. Conheci seus túmulos encravados nas montanhas e os nativos afirmam que, durante a noite eles saem para se banhar no rio, comer e voltar para seus abrigos eternos).
 
 Caminhas por uma cultura tão incrível acelerou o desenrolar dos meus pensamentos e, naquele momento, misturei realidade com espiritualidade; parecia mesmo real pois senti uma energia que me subia pelos pés exuberante; algo que jamais havia sentido e, creio que meus amigos sentiram a mesma coisa, porque nessa viagem ao passado ganhei uma família nova, de vários estados do meu país de origem e de outros países.
 
 Ir ao teatro para assistir as danças regionais e escutar às musicas  andinas foi algo de muito prazeroso e emocionante, de me levar às lágrimas, porque suas danças falam das culturas no campo e de suas conquistas amorosas que, generalizando uma união não se difere em país algum; o homem é sempre prepotente e lá as mulheres já nascem predestinadas a alguém, não se casam com quem amam. Outra coisa que me deixou emudecida de emoção foi os imensos blocos de pedra, no “Vale Sagrado”. As imensas pilastras fazendo curvas. 
 
Tinham algumas pedras de mais de cento e vinte cinco mil toneladas – sempre uma sobreposta a outra sem nenhuma colagem. E como eles conseguiram levar todas até lá e as talharem de alguma forma que se encaixavam perfeitamente umas às outras. Milagre? Não, tecnologia, inteligência e uma mente engenhosamente perfeita na arte da construção e de artesanatos. Os incas não danificavam a natureza. Onde retalhavam uma montanha para a construção de algo, faziam do espaço morto terraços, onde plantavam milho (maíz) e batata (papa o patata), Em Uro, no Lago Titicaca, existem ilhas flutuantes, dos nativos, descendentes dos incas.
 
 Também é um tipo de civilização diferente. Eles constroem duas casas de palha em cima de um revestimento, também de palha, tendo como suporte uma planta que nasce  no lago e que são comestíveis – por sinal, muito gostoso -. Hoje não falarei mais sobre a cultura inca que, apesar de divergir muito das culturas europeias, enche nossos olhos de encanto, estupefatos de beleza e esmorecidos pelas interrogações íntimas, se for falar sobre relacionamento homem X mulher , estaria passando a vocês um paralogismo.(mas  ideologias não passageiras pois nem o ser que amamos faz com que mudemos ou distorcem o rumo real e bonito dos nossos pensamentos). 
 
Já tive uma casa cujos alicerces eram feitos de maldade, de egoísmo, egocentrismo, violência carnal e psicológica, indução à baixa estima... Enfim, quando conheci ou encontrei o verdadeiro amor, não sei se foi melhor. Suponho que tenha sido mais louco ainda porque esse amor queria e quer que eu construa uma estrutura sofre o frágil alicerce de sonhos, que nos rouba o prazer de viver a verdade, de sentir carinhos reais, beijos cheios de amor e paixão, que nos arrebata o corpo frágil de uma emoção tão pura, tão generosa (com ambos), tão maravilhosa, que suponho de devemos nos sentir flutuando, pois nunca a senti de verdade porque a distância é nossa inimiga. Engraçado! Vivo sonhando desde os doze anos.
 
 Quando ainda era uma pré-adolescente era maravilhoso sonhar com príncipes encantados; deleitava nossa alma e coração.... Elevava-nos ao céu, bem perto de Deus, como se fôssemos anjos adoráveis, puros de pensamentos... Eu era tão pura que ficava toda vermelha quando o via na janela do quarto de sua casa, onde, às vezes eu passava, ele me olhava mas era como se não me visse. Não me notava ou, talvez, deveria rir da minha timidez exagerada. Uma vez, creio que só por maldade, que é a característica dos homens, numa festa junina, me levou até a casa de meus avós, como um pai conduz uma criança a casa (nessa época  tinha apenas treze anos... Que pecado! Depois apareceu outro amor platônico... peruano, de Cuzco.
 
 Passei bons anos pensando nos dois, dividindo pensamentos entre um real e um sonho estrangeiro. Como acontece com todo amor além fronteira ele destrói suas ilusões, promete, ilude, desmancha castelos de sonhos como castelos de areia. Deixei suas cartas na igreja de Nossa Senhora das Mercês, no centro de Cusco. Loucura? Não! Mais um sofrimento sepultado, aos pés da virgem. Gentil casar... Parece uma ironia da vida.... Sabe por que? O homem se esconde atrás do seu próprio ego malévolo.
 
 Mostra-se um educado cavalheiro mas, na verdade, não passa de um asqueroso femicida. Conquista  através da sutileza - ardiloso como uma raposa velha que já está quase aposentando na arte de aprisionar suas presas e babar sobre elas a sua fala cheia de veneno, que é letal; de lhe cortar o corpo todo com sua unhas ferinas, de lhe cortar o sexo com sua arma mais poderosa (mesmo escutando um gemido de impotência, de agonia, de dor insuportável, só pelo prazer de ver sofrer, implorar pela vida; muitas vezes, deixando sequelas irreversíveis).
 
 Consegui me livrar desse demônio, mas caí, mais uma vez ,nas asas do sonho. Fantasia limitante, educada, que me leva a um prazer incomensurável que me arrasta por toda uma noite, dentro de um sonho que não quero e não posso escapar, porque sinto um prazer real, um orgasmo verdadeiro... Para abrir os olhos, pela manhã, vislumbrar o ambiente e ver que estou completamente só, completamente nua e sozinha em minha cama; sem a menor possibilidade de tocar a felicidade, que está tão perto e tão longe. 
 
Viver não é simples assim. Existem barreiras, labirintos e teias, nas quais nos agarramos a espera de sermos devoradas pela dona daquela arquitetura tão bem tecida entre aquele recinto arbóreo. As culturas e os homens estão ligados através do tempo pela beleza arquitetônica e pelo femicídio. Isso nos faz vislumbrar as belezas naturais, com a ajuda de grandes mentes, e nos deixar impotentes quando temos que encarar de frente o quão pouco valemos na mão de um homem. A não ser se estivermos imortalizadas, como mártir, em uma estátua.


Testo de:JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

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