quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PATRIARCADO DA VIOLENCIA


 Por Debora Diniz

Eliza Samudio está morta. Ela foi sequestrada, torturada e assassinada. Seu corpo foi esquartejado para servir de alimento para uma matilha de cães famintos. A polícia ainda procura vestígios de sangue no sítio em que ela foi morta ou pistas do que restou do seu corpo para fechar esse enredo macabro. As investigações policiais indicam que os algozes de Eliza agiram a pedido de seu ex-namorado, o goleiro do Flamengo, Bruno. Ele nega ter encomendado o crime, mas a confissão veio de um adolescente que teria participado do sequestro de Eliza. Desde então, de herói e "patrimônio do Flamengo", nas palavras de seu ex-advogado, Bruno tornou-se um ser abjeto. Ele não é mais aclamado por uma multidão de torcedores gritando em uníssono o seu nome após uma partida de futebol. O urro agora é de "assassino".

O que motiva um homem a matar sua ex-namorada? O crime passional não é um ato de amor, mas de ódio. Em algum momento do encontro afetivo entre duas pessoas, o desejo de posse se converte em um impulso de aniquilamento: só a morte é capaz de silenciar o incômodo pela existência do outro. Não há como sair à procura de razoabilidade para esse desejo de morte entre ex-casais, pois seu sentido não está apenas nos indivíduos e em suas histórias passionais, mas em uma matriz cultural que tolera a desigualdade entre homens e mulheres. Tentar explicar o crime passional por particularidades dos conflitos é simplesmente dar sentido a algo que se recusa à razão. Não foi o aborto não realizado por Eliza, não foi o anúncio de que o filho de Eliza era de Bruno, nem foi o vídeo distribuído no YouTube o que provocou a ira de Bruno. O ódio é latente como um atributo dos homens violentos em seus encontros afetivos e sexuais.

Como em outras histórias de crimes passionais, o final trágico de Eliza estava anunciado como uma profecia autorrealizadora. Em um vídeo disponível na internet, Eliza descreve os comportamentos violentos de Bruno, anuncia seus temores, repete a frase que centenas de mulheres em relacionamentos violentos já pronunciaram: "Eu não sei do que ele é capaz". Elas temem seus companheiros, mas não conseguem escapar desse enredo perverso de sedução. A pergunta óbvia é: por que elas se mantêm nos relacionamentos se temem a violência? Por que, jovem e bonita, Eliza não foi capaz de escapar de suas investidas amorosas? Por que centenas de mulheres anônimas vítimas de violência, antes da Lei Maria da Penha, procuravam as delegacias para retirar a queixa contra seus companheiros? Que compaixão feminina é essa que toleraria viver sob a ameaça de agressão e violência? Haveria mulheres que teriam prazer nesse jogo violento?

Não se trata de compaixão nem de masoquismo das mulheres. A resposta é muito mais complexa do que qualquer estudo de sociologia de gênero ou de psicologia das práticas afetivas poderia demonstrar. Bruno e outros homens violentos são indivíduos comuns, trabalhadores, esportistas, pais de família, bons filhos e cidadãos cumpridores de seus deveres. Esporadicamente, eles agridem suas mulheres. Como Eliza, outras mulheres vítimas de violência lidam com essa complexidade de seus companheiros: homens que ora são amantes, cuidadores e provedores, ora são violentos e aterrorizantes. O difícil para todas elas é discernir que a violência não é parte necessária da complexidade humana, e muito menos dos pactos afetivos e sexuais. É possível haver relacionamentos amorosos sem passionalidade e violência. É possível viver com homens amantes, cuidadores e provedores, porém pacíficos. A violência não é constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens.

A violência conjugal é muito mais comum do que se imagina. Não foi por acaso que, quando interpelado sobre um caso de violência de outro jogador de seu clube de futebol, Bruno rebateu: "Qual de vocês que é casado não discutiu, que não saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Há pelo menos dois equívocos nessa compreensão estreita sobre a ordem social. O primeiro é que nem todos os homens agridem suas companheiras. Embora a violência de gênero seja um fenômeno universal, não é uma prática de todos os homens. O segundo, e mais importante, é que a vida privada não é um espaço sacralizado e distante das regras de civilidade e justiça. O Estado tem o direito e o dever de atuar para garantir a igualdade entre homens e mulheres, seja na casa ou na rua. A Lei Maria da Penha é a resposta mais sistemática e eficiente que o Estado brasileiro já deu para romper com essa complexidade da violência de gênero.

Infelizmente, Eliza Samudio está morta. Morreu torturada e certamente consciente de quem eram seus algozes. O sofrimento de Eliza nos provoca espanto. A surpresa pelo absurdo dessa dor tem que ser capaz de nos mover para a mudança de padrões sociais injustos. O modelo patriarcal é uma das explicações para o fenômeno da violência contra a mulher, pois a reduz a objeto de posse e prazer dos homens. Bruno não é louco, apenas corporifica essa ordem social perversa.

Outra hipótese de compreensão do fenômeno é a persistência da impunidade à violência de gênero. A impunidade facilita o surgimento das redes de proteção aos agressores e enfraquece nossa sensibilidade à dor das vítimas. A aplicação do castigo aos agressores não é suficiente para modificar os padrões culturais de opressão, mas indica que modelo de sociedade queremos para garantir a vida das mulheres.



* A autora é antropóloga e professora da Universidade de Brasília
** Texto publicado no jornal "O Estado de São Paulo"
*** Republicado em Paritário por ser um texto que condiz com o padrão de reportagem para o qual ele foi criado ( para às mulheres se cuidarem melhor e escolher melhor os seus parceiros, ou àqueles que as acompanharão pelo resto da vida), ou seja, para mulheres 
que, talvez, por leviandade, poderem prestar maior atenção daqui para frente.
                                                        ELIZA SAMUDIO


Patriarcato di violenza (Traduzione)Con Debora DinizEliza Samudio è morto. Lei è stato rapito, torturata e uccisa Il suo corpo fu squartato per servire di nutrimento per una mandra di cani affamati. La polizia sta ancora alla ricerca di tracce di sangue nel sito in cui è stata uccisa o un accenno di ciò che restava del suo corpo per chiudere questa storia macabra. Le indagini di polizia indicano che i carnefici di Eliza ha agito su richiesta del suo ex-fidanzato,Bruno,  il portiere Flamengo. Egli nega di aver ordinato il crimine, ma la confessione è venuto da un adolescente che aveva partecipato al rapimento di Eliza. Da allora, l'eroe e il "patrimonio Flamengo", nelle parole del suo ex avvocato, Bruno divenne un essere abietto. Egli non è più acclamato da una folla di fan urlanti il ​​suo nome all'unisono, dopo una partita di calcio. Il ruggito è ora un "assassino".Che cosa spinge un uomo a uccidere la sua ex-ragazza? Il reato di passione non è un atto di amore, ma di odio. A un certo punto l'incontro affettivo tra due persone, il desiderio di possesso diventa un impulso alla distruzione: solo la morte può far tacere il fastidio per l'esistenza dell'altro. Nessuna via d'uscita alla ricerca di ragionevolezza per questo desiderio di morte tra gli ex-coppia, perché il suo significato non è solo sugli individui e le loro storie di passione, ma in una matrice culturale che tollera la disuguaglianza tra uomini e donne. Cercando di spiegare il delitto passionale da particolarità del conflitto è semplicemente quello di dare un senso a qualcosa che si rifiuta di ragione. No l'aborto non è stato eseguito da Eliza, vi è stato l'annuncio che il figlio di Eliza era Bruno non è, il video è stato distribuito su YouTube che arrabbiare Bruno. L'odio è latente come un attributo di uomini violenti nei loro incontri affettivi e sessuali.Come in altre storie di delitti passionali, la tragica fine di Eliza è stato annunciato come un autorrealizadora profezia. In un video disponibile su Internet, Eliza descrive il comportamento violento di Bruno annuncia le sue paure, ripete la frase che centinaia di donne in relazioni violente già commentato: ". Non so cosa e 'capace di" Essi temono che i loro compagni, ma non riescono a sfuggire a questo piano malvagio di seduzione. La domanda ovvia è: perché rimangono nelle relazioni è la violenza la paura? Perché, giovane e bella, Eliza non è riuscita a sfuggire al suo amoroso? Perché centinaia di anonime donne vittime di violenza prima che la Legge Maria da Penha, la polizia ha cercato di ritirare la denuncia contra il suo compagno? Che cosa è questa compassione che le donne tollerano che vivono sotto la minaccia di aggressione e di violenza? Ci sarebbero le donne che potrebbero beneficiare di questo gioco violento?Non si tratta di compassione né masochismo delle donne. La risposta è molto più complesso di qualsiasi studio della sociologia o della psicologia delle pratiche di genere potrebbe rivelarsi affettiva. Bruno e altri uomini violenti sono individui normali, i lavoratori, gli atleti, i genitori, i bambini e buoni cittadini rispettosi delle loro funzioni. Sporadicamente, assaltano le loro mogli. Come Eliza, altre donne maltrattate affrontare questa complessità dei loro simili, che ora sono amanti, assistenti e fornitori, sono a volte violento e terrificante. Ciò che è difficile discernere tutti loro è che la violenza non è una parte necessaria della complessità umana, patti molto meno affettive e sessuali. Si può avere relazioni d'amore senza passionalidade e la violenza. Si può vivere con gli amanti uomini, operatori sanitari e fornitori, ma pacifici. La violenza non è costitutiva della natura maschile, ma piuttosto un dispositivo culturale di una società patriarcale che riduce i corpi delle donne gli oggetti di consumo e di piacere degli uomini.La violenza domestica è molto più comune di quanto si pensi. Non è un caso che, quando interrogato su un caso di abuso di un altro giocatore della sua squadra di calcio, Bruno rispose: "Chi di voi che non sono sposati discusso, non sulla mano sinistra con la moglie, uomo giusto Non c'è modo . Nella lotta tra marito e moglie, nessuno mettere il cucchiaio. " Ci sono almeno due errori in questa ristretta concezione dell'ordine sociale. La prima è che non tutti gli uomini d'assalto i loro partner. Anche se la violenza di genere è un fenomeno universale, non è una pratica di tutti gli uomini. Il secondo, e più importante, è che la vita non è uno spazio privato sacralizzato e via le regole di civiltà e di giustizia. Lo Stato ha il diritto e il dovere di intervenire per garantire la parità tra uomini e donne, sia in casa o per strada. La Legge Maria da Penha  è la risposta più sistematica ed efficiente che il brasiliano ha già dato alla rottura questa complessità della violenza di genere.Purtroppo, Eliza Samudio è morta. Deceduto torturata e erano certamente a conoscenza di chi sono i loro aguzzini. La sofferenza di Eliza provoca stupore. La sorpresa per l'assurdità di questo dolore deve essere in grado di muoversi a cambiare schemi sociali ingiuste. Il modello patriarcale è una delle spiegazioni per il fenomeno della violenza contro le donne in quanto riduce l'oggetto di possesso e il godimento degli uomini. Bruno non è pazzo, incarna proprio questo male sociale.Un'altra ipotesi per comprendere il fenomeno è la persistenza di impunità per la violenza di genere. L'impunità favorisce l'emergere di reti di sicurezza per aggressori e diminuire la nostra sensibilità al dolore delle vittime. L'applicazione della pena di aggressori non è sufficiente per cambiare i modelli culturali di oppressione, ma indica quale modello di società che vogliamo per garantire la vita delle donne.

* L'autore è un antropologo e professore presso l'Università di BrasiliaTesto ** pubblicato sul quotidiano "O Estado de São Paulo 

** Comune Ripubblicato da essendo un testo che corrisponde al modello di segnalazione per cui è stata creata (per le donne a prendersi cura di se stessi meglio e scegliere meglio i compagna, o quelli che seguono per tutta la vita), vale a dire per le donne
che, forse, per la leggerezza, possono prestare maggiore attenzione in futuro







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