segunda-feira, 13 de julho de 2015

SER OU NÃO SER FELIZ... EIS A QUESTÃO...


Nossos sentimentos e emoções vem e vão, crescem e desaparecem, como fases da Lua. Por que então tomá-los como base de nossas relações? O amor como sentimento (ou sobre as crianças mimadas que somos). “Na mesma época em que as crianças se tornaram representantes de nossa vida além da morte, começamos a organizar nossa sociedade pelos sentimentos. Não só nos casamos por amor ou se ele, mas até nossos laços de sangue pouco valem sem os afetos. Passamos de um mundo em que havia laços com ou sem sentimentos (tanto fazia) a um mundo em que os sentimentos são condição dos laços.”

Nós queremos ser chacoalhados. Filmes, músicas, chocolates, viagens, sapatos, amores… Somos felizes quando somos movidos por algo. Toda paixão – como já sugere a raiz grega, páthos – é uma forma de passividade. Nós sofremos paixão, padecemos, nos assujeitamos. Caímos arrebatadas, atropeladas.A paixão é algo que nos acontece.Primeiro, a confissão “Estou apaixonada por ele!”, que significa “Ele faz coisas comigo, ele me deixa viva, linda e feliz”. Depois, “Eu te adoro”, nada diferente de pedir que o outro continue nos movendo, seguido pelo clássico “Eu te amo”, ou seja, “É por você que quero ser amada”. E enfim o pedido de casamento, cujo discurso gira em torno de ' eu nunca fui tão infeliz pois me portei com um crápula, uma pessoa de duas faces e, para piorar é de "gêmeos" (já enfiei a astrologia no meio

Se casamos por um amor desses, assim que o outro pára de nos mover, de injetar infelicidade em nós,e ainda quer nos forçar a sentir tesão, nossa passividade se revela pura estagnação (pois afinal nunca nos movemos de fato, é sempre o outro que nos puxa de lá para cá). Quando ele pára de nos mover, paramos de amar. Trocamos então o “Eu te amo” por “Eu quero me separar”. O motivo? Parecia ser feliz, mas era tudo um encenação; fazia feliz, agora não maisela,  pois sempre fingiu tudo, como em uma telenovela. Razão suficiente para terminar uma relação, não é mesmo?

Se fosse apenas com as relações amorosas… O sentimento é considerado critério de veracidade, referencial ético, fundamento inquestionável para qualquer ação. Ele saiu do trabalho porque não estava se sentindo bem lá. Ela fuma porque gosta do que o cigarro o faz sentir. Ele quase não visita sua família porque se sente desconfortável entre tios e primos, gente chata e sem graça. E, claro, ele terminou o casamento porque nunca me amou, acabou. Os sentimentos são nosso refúgio e nossa certeza. Nossa intuição mais profunda: “Se eu sinto assim, então só pode ser verdade!”.

Tomando os sentimentos e as sensações como referencial, procuramos por tudo aquilo que nos faz sentir bem e nos afastamos das situações e seres que não nos trazem praze, só asco, um nojo repulsivo.. Com isso, nos mimamos o nosso ego, na esperança de existir um homem perfeito, que se encaixe a você: “Rúcula eu não como porque não gosto”. A nova geração de homens “frescos” que não comem alguns legumes e verduras é impressionante! Esses dias conheci um cara que não come mamão. Pode isso? (Toda mulher deveria desconfiar do desempenho sexual de um homem que não come de tudo).

    “Na sociedade atual, o projeto de ser feliz é mais importante do que qualquer obrigação – inclusive a de criar as crianças no quadro de uma família. Os pais que se divorciam transmitem esta opção a seus rebentos, que se tornam, portanto, os arautos da nova disposição subjetiva, assim resumida: o que mais importa é se dar bem.”Como sabemos que nos indispomos ao menor desconforto (e que o outro funciona do mesmo modo), evitamos ao máximo causar atritos no sentimento que elegemos como base da relação. Sob o risco do amor do outro acabar, temendo sermos abandonadas (mas eu fui) como um brinquedo antigo jogado no fundo do armário, também mimamos nossas fantasias e vontade de ser feliz.

Tentamos não confrontar suas negatividades para que eles nunca pensem que só fingimos acreditar. Ao mesmo tempo, nós também queremos nos sentir amados, então mimamos nossos sonhos para sermos amadas interiormente, pois no real não há chance – eis nosso pacto de mediocridade.    “Os laços construídos ao redor do amor são dos mais precários; os casamentos por amor duram menos, ao que parece, do que os contratos do passado. E, quando duram, podem doer mais (tipo: nossa vida é um inferno, a gente não se entende, vivemos em um inferno mas mostramos um amor de fachada para a sociedade).” Isto doí, machuca, frustra. ão que o fez nascer. É a lembrança dessa vinculação que, depois de anos de relacionamento, nos preocupa lá pelo quarto mês de paixão ausente: “Ele não me procura mais”, “Ele parece que me odeia, nunca gostou gostou de mim e se uniu a mim pelo statos do meu sobrenome e minhas raízes italianas e francesas”.

 Se não há paixão, parece não restar mais amor, então outros sentimentos e emoções tomam conta do nós (já que o sentimento é sua fundação), muitas vezes o fazendo ruir de dentro para fora. Sem amor, qual o sentido de ficar junto? Por isto ele partiu (também por não ter responsabilidade de macho. Sempre se deixou levar pelos outros.Nosso mimo hedonista quase não é um problema comparado ao sofrimento gerado pela impermanência, pelas oscilações dos sentimentos. Funciona assim: um sentimento surge, dita o que é verdade para mim, dá sentido a todo o meu momento e me impulsiona para uma ação, então me movo em uma direção, até que o sentimento cessa (e com ele a verdade, o sentido e a ação) e me sinto perdida, confusa e impotente, sem entender como fui parar em um local desconfortável sendo que estava andando em direção a um horizonte de felicidade.



Se colocamos duas pessoas, lado a lado, se amando assim, arrastadas por sentimentos, qual a probabilidade de elas continuarem próximas por um longo tempo? Nenhuma, pois isto o que me aconteceu e acontece com muita gente.Uma relação que sempre foi cheia de conflitos, nunca mais terá a probabilidade de ser "igual" ao período antecedente às desavenças porque foram tantas  às feridas, tantos insultos, violência,  palavras indelicadas, da parte dele, que é impossível acreditar, deixar "outro" se aproximar.... "Infelizmente, ficamos com este trauma".


Escritora, Poetisa & Freelance

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