domingo, 12 de julho de 2015

MISANDRIA X MISOGINIA



Em um meu artigo eu já falei de misoginia. Hoje vou escrever sobre a misandria é a repulsa, desprezo ou ódio contra o sexo masculino. Esta é uma forma de aversão patológica aos homens, enquanto gênero sexual, sendo considerada o oposto da misoginia, que é o sentimento de repulsa e ódio pelo sexo feminino.

Etimologicamente, o termo "misandria" surgiu do grego misosandrosia, composto pela junção das partículas misos, que quer dizer "ódio", e andros que significa "homem". Atualmente, o termo "androfobia" também pode ser considerado sinônimo de misandria. Já o oposto, ou seja, a admiração e paixão pelo sexo masculino é conhecido por androfilia.

Muitas pessoas associam o feminismo como um propagador do discurso misândrico, no entanto, o feminismo, ao contrário do machismo é um movimento político, social e filosófico que defende a igualdade de direitos e deveres entre o sexo masculino e feminino. A misandria é propagada pelo chamado "feminismo radical", também conhecido por femismo, que é considerado o sinômino do machismo (ao mesmo tempo que é o seu oposto), pois trata-se de uma ideologia de superioridade da mulher sobre o homem.

O femismo, assim como o machismo, prega a construção de uma sociedade hierarquizada a partir do gênero sexual; baseada em um regime matriarcal. feminismo e femismo são conceitos completamente diferentes.Misandria e misoginia.
A misoginia é o sentimento extremo de repulsa, desprezo e ódio contra às mulheres, enquanto que a misandria é o nome dado ao sentimento de raiva ou aversão praticado contra o sexo masculino. Existe um debate que questiona o posicionamento da misandria perante a misoginia, devido a importante carga histórica que carrega o preconceito sofrido pelas mulheres ao longo dos séculos. Algumas pessoas acreditam que a misandria surgiu como uma forma de "defesa" das mulheres atacadas por misóginos..

De acordo com o vulto que as manifestações humanas tomam de tempos em tempos, é comum observar a popularidade que ganham certas palavras antes muito pouco usadas. Uma grande parcela dos homens (mesmo que pareça contraditório para um homem hétero), apresenta comportamento misógino, pois para que o machismo permaneça com a 'superioridade masculina', é preciso minar nossa confiança de alguma forma, para que permaneçamos em nosso devidos lugares.
Toda mulher sofre com o machismo e com a misoginia desde o momento que é reconhecida como tal. Se não no próprio ambiente familiar, no momento em que começa conviver em sociedade. Muitas se habituam aos comportamentos supracitados, e a eles nunca reagem. Algumas outras, sobretudo as que sofrem traumas mais profundos e lutam pela emancipação do gênero, desenvolvem um comportamento de resposta que vem sido classificado como misandria.

Mas como podemos classificar como misandria um comportamento que é apenas uma reação, uma resposta, ou mesmo uma defesa? (Acaso nós mulheres devemos aceitar caladas o tratamento que ainda recebemos em pleno século XXI, ou devemos nos comportar aceitando que somos o sexo frágil?)Se a misandria existe, então por acaso isso anularia a carga do comportamento misógino que a mulher sofre desde sempre de forma ainda mais agressiva? A 'ofensa' que seria sofrida por um homem misógino não justificaria um comportamento equivalente, sobretudo em comparação ao que já foi, é, e será vivenciado por toda mulher. E isso inclui mesmo as que repudiam o comportamento 'misândrico', pois a vítima nunca deve ser culpada e sim esclarecida e amparada.

Não entendamos por vítima o lado mais fraco, nenhuma mulher está salva de passar por certas situações, por mais forte que seja. Isso se torna propício pela aceitação das atitudes machistas e afins por parte sociedade, devido a manipulação nos inviabiliza e propaga ainda essa aceitação. É fácil observar que tudo isso vem sob um disfarce de preocupação com a integridade, a feminilidade, a moral entre outros aspectos da própria mulher. E isso torna tudo muito mais difícil... Nessas tentativas de inversão cada vez mais constantes, vemos deturpações enormes, como por exemplo dizer que toda feminista é misândrica, entre outras estereotipias, além de alcunhas como 'feminazi' (esta em especial utiliza-se inclusive de forma bem humorada entre algumas feministas).

Porém uma massa de reacionários mais incautos, ou mesmo de misóginos treinados, acaba propagando uma imagem negativa e destrutiva, nos fragmentando cada vez mais. Estes, muitas vezes não assimilam que feminismo, é totalmente diferente de femismo*. Mesmo tendo ciência de que existem frentes feministas mais incisivas, a inversão deve ser identificada e combatida! O mundo não é dividido entre femistas e machistas, misândricos e misóginos, e nem mesmo é preciso ser feminista para reconhecer certas situações. Algumas questões requerem apenas uma dose de bom senso!

Classificar a mulher como misândrica (e como machista), é o mesmo que classificar um negro como racista o que absolutamente não se aplica ao contexto em que vivemos. Num português mais claro: é uma tentativa escrotade tirar o seu da reta. Façamos algumas observações um simples: as mulheres sofrem assédio, agressões, retaliações nos ambientes mais diversos, e os autores destas ações talvez nunca receberão delas, ou de outras a mesma abordagem; Uma grande quantidade mulheres, entre elas feministas, possuem companheiros, filhos, pais, entre outros entes próximos, do sexo masculino e não apresentam um comportamento de ódio para com os mesmos, mesmo quando o recebem.

No entanto parece impossível para alguns observar, que se esse repúdio feminino está crescendo, é porque algo ainda o motiva. Mas ao invés de uma reforma destes falsos valores que apodrecem nossa sociedade, o que vemos cada vez mais é uma espécie de chumbo trocado. Em tempo: as definições apresentadas logo a início do texto são justamente para escurecer que na prática não se trata de simples ódio ou repulsa, ou das intrigas frívolas que vemos internetê afora. A misoginia atua não só desta forma, como de modo a colocar as mulheres em posição de descrédito e autodepreciação, pelo simples fato de serem mulheres, além de pior, em conflito umas com as outras! É comum o descrédito por comportamentos que "deveriam" ser estritamente masculinos, e qualquer outra atitude considerada agressiva inconvencional da mulher.É preciso atentar não só para a etimologia das nomenclaturas impostas, como para as tentativas de inversão de culpa que são colocadas para tentar nos confundir. Não se culpe por algo que não partiu de você! Machismo, misoginia e androcentrismo, são comportamentos que tem sempre acompanhado a sociedade, que ainda é baseada no domínio masculino, e nenhuma inversão pode abafar tudo aquilo que temos vivenciado.

Misandria é um conceito muito distorcido e mal utilizado. O senso comum basicamente coloca a misandria como ódio individual aos homens, um ódio sem motivo, sem sentido — como se mulheres misândricas fossem animais irracionais. Nos rotulam como “histéricas” (uma denominação amplamente utilizada para torturar e queimar mulheres na Idade Média) e exageradas. Porém, antes de tudo, é preciso encarar que homens cisgêneros formam uma classe política. O que isso significa? Significa que eles, enquanto grupo social, são moldados pelo mesmo tipo de estrutura e também a perpetuam. Quando falamos que “homens são todos iguais” estamos falando da classe política homem e não de suas experiências individuais.

Nós vivemos numa sociedade onde o patriarcado é uma superestrutura e os homens são os seres dominantes dela, ou seja: todo homem é parte dominante do patriarcado e essencial para sua manutenção. Todos os homens propagam – de forma consciente ou inconsciente – o patriarcado, é inevitável. Como já cansei de falar aqui no Paritario, homens são todos machistas e, a partir do momento em que reveem seus privilégios, machistas em desconstrução. Por que é importante dizer tudo isso? Para que fiquem claras as motivações da misandria. Misandria não é ódio descabido e desmotivado, é ódio ao poder que a classe política dos homens exerce.

Nós, mulheres, vivenciamos violência de gênero diariamente, de diversas formas – seja essa violência verbal, física ou psicológica, não importa. A violência existe, é algo real, palpável, observável. E todas essas violências de gênero cometidas conosco são, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, encorajadas, causadas e apreciadas por todos os homens cisgêneros. No mundo das ideias (onde o humanismo realmente serviria para alguma coisa), realmente, a violência é individual e cometida por um homem em uma situação específica. Mas, infelizmente, o materialismo nos mostra outra coisa: todos os homens são beneficiados pela violência contra a mulher. Todos, sem exceção. Justamente porque essa violência é causada pelos agentes ativos do patriarcado, e quem são esses? Os homens. A violência cometida por um homem beneficia a todos. A violência de gênero é um dos pilares do patriarcado e é ela que perpetua o poder masculino e a sua superioridade.

Portanto, a misandria não é nada mais do que uma forma de proteção psicológica contra o tipo de violência que mais nos aflige enquanto mulheres. E ela, de certa forma, não é nem uma escolha – muitas vezes é causada por traumas de experiências com homens, que é o meu caso. Todos os estupros, todas as relações abusivas, todas as vezes em que somos inferiorizadas intelectualmente, todas as vezes em que a maternidade nos é imposta, todas as vezes em que nossos corpos são erotizados e sexualizados, todas as vezes em que o patriarcado e os homens agem sobre nós – tudo isso nos dá o direito de usar a misandria enquanto proteção e tática de militância, criando espaços exclusivos e seguros para mulheres.

Peço às feministas não-misândricas e às pessoas que não são feministas que respeitem as nossas vivências e a forma como nós lidamos com a violência de gênero. Sinto que falta, além de contextualização, compreensão. Ninguém é obrigada a ser misândrica, a misandria não é uma imposição. Nenhuma forma de luta deve ser imposta. Nenhuma vivência deve ser imposta. Nós somos misândricas por necessidade, por nos sentirmos mais seguras assim. E a misandria, acima de tudo, é a forma que nós encontramos de expressar nosso ódio ao patriarcado.
  
 
 
Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, poetisa & Freelance

Nenhum comentário:

Postar um comentário