quarta-feira, 6 de maio de 2015

FEMINICIDIO, MISOGINIA E MISOGAMIA: "O ESCUDO DOS MACHISTAS ASSASSINOS"...


 Já falei sobre a misogamia, feminicídio.... Hoje falo sobre a "misoginia", que, também tira vidas do mesmo jeito; é, igualmente hediondo, asqueroso e dá asco. Mais um caso de massacre com motivação misógina ocorreu na última sexta-feira (William Greens) esfaqueou três colegas de quarto e atirou em duas mulheres no campus, além de atirar sem alvo até ser encontrado morto. E a mídia, em sua grande maioria, mais uma vez, ignora a questão de gênero que está por trás desse crime.
 
William Greens deixou claro o quanto odiava mulheres em um vídeo gravado por ele em que ele culpava as mulheres por sua solidão e jurava vingança contra todas as mulheres que o rejeitou se referindo a elas como "vagabundas mimadas". Foi achado um diário de 140 páginas em que ele destila seu ódio com frases como "Mulheres não merecem ter qualquer direito".

Nós não termos direitos? Se não fosse por nós, mulheres, os hediondos misóginos, feminiciidas e misóginos não teriam nascido nunca, pois cada um nasceu do ventre de alguma mulher. Não satisfeitos por virem e fazer parte deste mundo, ainda querem já mataram ou pretendem fazê-lo. Homens! que nojo eu tenho da maioria. Ainda bem que fiz do meu filho um homem de verdade e, quando se casar, dará o paraíso à sua esposa.

No Brasil, ocorreu um massacre em Realengo, em 2011, quando Wellington Menezes entrou numa escola e assassinou dez meninas e dois meninos. Quando isso ocorreu, por mais que o crime claramente tivesse sido motivado pela misoginia e essas meninas tivessem sido vítimas por serem mulheres, a mídia não se pronunciou a respeito. E assim como Elliot, Wellington tinha vínculo com grupos masculinizas. 
 
Mas a misoginia não influencia apenas ataques em massa, mas também nos assassinatos de mulheres por seus maridos, ex-namorados e até mesmo pais. Quando a cultura misógina diz que mulheres devem obediência aos homens e que pertencem a eles, ela influencia esse tipo de crime. O feminicídio de Eloá é emblemático: seu ex-namorado, Lindemberg, invadiu a casa de Eloá, onde ela estava fazendo trabalhos escolares e ela e uma amiga foram mantidas por ele em cárcere privado . A amiga dela foi liberada e participou das negociações e depois de 100 horas, Eloá foi assassinada pelo ex, após uma ação mal efetuada pela polícia. O feminicídio foi televisionado, entretanto, jamais foi falado do caráter misógino da ação dele.

Chamar um feminicídio de crime passional é ignorar os aspectos culturais que induzem homens acharem que mulheres são propriedade deles e assumir que paixão/amor são capazes de fazer pessoas agirem com tamanha violência. Sendo que não é o amor, paixão ou desejo que motivam essa violência e sim as relações de poder e a naturalização de relacionamentos abusivos como românticos.

É importante desmistificar que só é misoginia e machismo quando chega a ocorrer tais crimes. Afinal, por trás dessa violência, há o descaso e despreparo da polícia para atender as vítimas de violência doméstica e de estupro, o que dificulta que as denúncias sejam feitas e que quando feitas, surtam efeitos. E há também toda uma cultura que reafirma que os corpos das mulheres são disponíveis, de culpabilização da vítima e que coloca o ciúme e o controle da vida do parceiro como românticos, o que naturaliza os relacionamentos abusivos.

Meu ex marido já tinha demonstrado antes seu ódio por mulheres, em mim.Por exemplo, ele jogou café em duas mulheres numa lanchonete, porque elas não sorriram de volta para ele. No diário citado acima, ele afirma que queria que o café estivesse mais quente, para queimá-las. Se vocês tiverem estômago, leiam todos os textos  em que falo da minha vida passada, que expõe várias barbaridades que ele fazia.Hoje eu digo com asco: - "Homens, as mulheres não lhe devem nada. Isso mesmo: -  Nem mesmo um sorriso

A importância da mídia nomear esse tipo de crime como um crime de gênero é que ao fazer isso, ela reconhece que a misoginia e o machismo existem e devem ser combatidos para evitar mais mortes. O reconhecimento de que existe sim uma cultura que coloca a mulher como inferior ao homem e de ódio contra tudo que é feminino e a influencia dessa cultura na existência de alguns crimes, faz parte do processo de conscientização de que ela tem que mudar.

Só é possível combater a misoginia, usando essa palavra toda vez que comportamentos e discursos que a reproduzem aparecer.  É necessário dizer que é misoginia, quando frases como "Aquela vadia dá para todo mundo, menos pra mim. Odeio essa vagabunda" são ditas e assim aos poucos destruir a ideia de que mulheres devem alguma coisa para os homens. Nomear o problema é um passo essencial para que ele passe a ser combatido como deve e não ter aspectos essenciais de mecanismo de desconstrução negligenciados. Vi uma frase assim: -"Meninas têm medo de ir à escola e precisam usar apito anti-estupro. Meninos estão comprando camisinhas."

É difícil lidar com frases e comportamentos diários de pessoas que conhecemos e você é uma "vozinha chata que reclama de tudo". Você se passa por chata quando reclama do comercial da televisão ou da cena de novela. É difícil ver a cegueira das pessoas com casos claros de misoginia e elas ainda por cima rirem ou defenderem o cara. Vi comentários falando que se as meninas não fossem tão chatas, ele não teria cometido esses crimes.
 
 Acontece um crime hediondo e todos os machos colocam a culpa nas mulheres. é isto mesmo, leitores: - A culpa é sempre nossa, que somos mais frágeis e temos um pouco de anjo e de santa. Só mesmo sendo santa para passar por tudo que passei e a justiça não o obrigar a depositar, mensalmente, um bom salário para suprir às necessidades diárias e, assim, se desculpar de tudo que levou de nós, de você, de material e espiritual. Minha filha hoje comentou isto comigo: - Mamãe, você deveria ter solicitado uma pensão para você. Não vê como "ele fica louco para se livrar de nós"? Mas, hoje, que juiz faria isto?
 
 
Texto di: JUSSARA SARTORI
Escritora. Poetisa & Freelance

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