terça-feira, 17 de março de 2015

NEM TODOS OS HOMENS SÃO FEMINICIDAS... MAS TODAS ÁS MULHERES SÃO JÓIAS RARAS...

A verdadeira mulher é aquela que consegue sair com dignidade de uma vida vil, onde o homem femicida a depredava; mordia-lhe os lábios, deixava hematomas em seu ventre, invadia o seu sexo como se "aquele monastério sagrado" fosse "a boca do inferno, infestando-o com fogo e com tridentes, trazendo-lhe uma dor tão grande que seu grito ecoado se fazia escutar nos confins do  mundo, debatendo-se até suas forças esmorecerem, engolindo o sangue que lhe escorria pelo rosto, como prêmio de um maldito selvagem que queria dilacerá-la e não conseguiu pois a "verdadeira mulher" luta até sua última gota de sangue e de coragem.
 

Ser mulher, hoje, é como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez, em que ela é o premio, para ser sacrificada como uma ovelha linda, branquinha, que lemos nas velhas histórias e nos evangelhos.
Eu sou mulher e, apesar de todo medo, luto para conhecer a verdadeira felicidade, o desejo de um beijo embriagado de sedução, de um abraço que me fizesse ferver a alma e meu sangue virar fogo nas veias para viver um amor angelical que, apesar de sentimentos tão fortes, tão profundos faça da sua descoberta rara (o homem original, que não foi gerado entre os brutamontes selvagens).

Ele me chegará cheio de ternura e, tudo que vier de sua boca, das suas mãos, do seu corpo será divinamente belo, como se despetalasse uma rosa até chegar ao seu interior frágil, delicado, belo, como nunca tivesse sido tocado por mãos pecaminosas de um feminicida.Esta é a verdadeira mulher (aquela que supera o mau e torna-se perfeita, como um anjo, para se doar, finalmente, ao homem que a ama e que ela amará pelo resto dos seus dias). A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, per­tence inteiramente a um universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação.
 
 Ela conhece os segredos das águas, das pedras, das plan­tas e dos animais. Ela fixa o sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, das har­monias da matéria. É ela que se­meia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a in­fância do mundo. Ela o devolve ao seu trabalho de homem, que é elevar-se o máximo possível acima de si mesmo. O problema é que quase não há mais mulheres. Sus­tento que as mulheres desapareceram, que houve uma catástrofe, que a raça das mulheres foi dispersada e aniquilada sob nossos próprios olhos, que não pu­deram ver. Senhores, a mulher, a descendente do pa­leolítico e do neolítico, nossa fêmea e nossa deusa, o ser que eu chamaria de mulher do homem e que já não sabemos como é, foi perseguida, atingida em seu corpo físico e em seu corpo mental, e devolvida ao nada.

As entranhas da Terra estão plenas de flores­tas tragadas, de restos de espécies animais desapare­cidas, de cinzas de raças humanas e sobre-humanas cuja história, se nos fosse revelada, desafiaria a mais louca imaginação. Nossa verdadeira fêmea, ela tam­bém, misturou-se ao húmus dos abismos subterrâ­neos. Por quê? Ah, senhoras, reflitam! Foi ela quem arcou com os custos da imensa, da implacável luta contra as religiões primitivas do Ocidente. Essa luta é toda a história do mundo dito civilizado. As senhoras acreditam que nos lugares onde as legiões romanas nunca conseguiram adaptar sua religião — por exemplo, na França ou na Inglaterra —, os sol­dados de Cristo encontraram uma terra inculta e sem deuses? Em inúmeros lugares da velha Europa, nas lendas, nas planícies de menires, no fundo do mato e nas margens dos rios onde Pã cantava, sobrevivia a religião nativa oriunda da noite dos tempos, a ver­dadeira religião do homem ocidental.
 
 Mulheres, es­tou certa de que a Europa viveu, durante milênios, de um elevado pensamento místico, ele mesmo oriun­do de outras eras, consagrado ao Deus Cornudo e à exaltação do princípio feminino. É evidente que essa espiritualidade original foi afogada com violência, no fogo e no sangue, por uma religião estrangeira, vinda do Oriente: o cristianismo. O Deus Cornudo, protetor da antiga humanidade do oeste, foi chama­do de diabo e amaldiçoado. Os ídolos imemoriais foram derrubados e foi preciso destruir, junto com eles, seu suporte: a mulher mãe, a mulher deusa, a  mulher fêmea, a verdadeira mulher. As mulheres, como eu, mergulham de cabeça nos problemas horrendos, fazendo dele um eufenismo completo, sem se importar com as línguas malditas que querem lhe enrolar o corpo como as cobras  da cabeça de Medeia. 
 
  As pessoas cultas denunciam hoje as atrocida­des do colonialismo recente: os indígenas aniquila­dos, os feiticeiros africanos extintos, as civilizações negras martirizadas. Mas não falam de nossos anti­gos totens, que foram derrubados! De nosso Deus, que foi aviltado e perseguido! De nossas sacerdoti­sas, que foram exterminadas! De nossa mulher, que nos foi subtraída! A velha Europa também foi colo­nizada e desfigurada. Sim, senhoras, atrevo dizê-lo. Do ponto de vista puramente antropológico em que me situo, a história da Igreja cristã é a história de uma guerra empreendida pelo estrangeiro contra um cul­to nativo muito antigo, muito poderoso, muito pro­fundamente arraigado e de um crime bem-sucedido contra toda a raça humana fêmea. Nós perdemos nossa metade, senhoras. Como mostrarei, ela foi morta.

Não julgo pois só Deus tem o poder de acusar e dar a pena que acha justa. Talvez esse crime fabuloso fosse necessário. E talvez fosse inevitável. A civilização não seria o que é se a verdadeira mulher ainda existisse. Nós continuaríamos a crer no Paraíso terrestre. O espírito humano não teria tomado novos rumos. Não estaríamos hoje a ponto de atingir as longínquas galáxias, não teríamos aberto as portas do universo, pe­las quais já penetra o chamado do Deus último, no qual se fundirão todos os nossos deuses, no qual o espírito do globo se reabsorverá um dia, tendo cum­prido sua missão. Mas examinemos esse crime.
 
 Ex­termínio físico em fogueiras: evocarei as centenas de milhares de verdadeiras mulheres, chamadas de bru­xas e queimadas como tais, e os outros milhões de mulheres vencidas, vendidas, decapitadas e transformadas pelo medo.  Exterminadas pela falsa propaganda dos homens da cavernas pela mídia enganosa corrompe a integridade de todas elas, mulheres, mãe do seu próprio inimigo feminicida,  da Guerra revolucionária em­preendida pela Cavalaria contra a mulher verdadei­ra, a favor de um novo ídolo. E, enfim, num plano mais amplo, mais misterioso e concomitante, muta­ção decadente da espécie. 
 
 De tal forma que, pouco a pouco, o ser fêmeo autêntico foi substituído por um ser diferente.
A mulher de hoje pode parecer um tanto fria e calculista, ao lidar em grandes empresas, em pé de igualdade com o homem; mas isto não passa de uma armadura para de defender dos monstros famintos por sangue, como na velhas histórias de vampiros. Amigas, o ser que chamamos de mulher não é a mulher. É uma degenerescência, uma cópia. A essência não está aí, o princípio não está aí, nossa alegria e nossa salvação não estão aí. Chamamos de mulheres seres que dela não têm senão a aparência, tomamos em nossos braços imitações de uma espécie inteiramente ou quase destruída.

A mulher, verdadeiramente mulher, hoje em dia é rara por culpa dos malditos femicidas. Ao despo­sarem uma medíocre falsificação dos homens, um pouco mais artificiosa, um pouco mais maleável, a maioria dos homens desposa a si mesma. É a si mes­mos que eles veem passar pela rua, com um pouco mais de colo, um pouco mais de quadris, o todo envolvido em uma bela veste do momento; é a si mesmos que eles perseguem, abraçam, desposam. Afinal, é menos frio do que des­posar um espelho. A mulher é rara, ela transpõe as enchentes, derruba os tronos, ela detém os anos. Sua pele é o mármore. Quando há uma, ela é o impasse do mundo… Para onde vão os rios, as nuvens, os pássaros isolados? Se lançar na Mulher… Mas ela é rara… Deve-se evitá-la quando a vemos, porque se ela ama, se ela detesta, ela é implacável. Sua compaixão é implacável… Mas ela é rara.

A verdadeira mulher, aquela que vem a nós do fundo das eras, a mulher que nos foi dada, per­tence inteiramente a um universo estranho ao homem. Ela cintila no outro lado da Criação. Ela conhece os segredos das águas, das pedras, das plan­tas e dos animais. Ela fixa o sol e vê claro na noite. Ela possui as chaves da saúde, do descanso, das har­monias da matéria. A mulher  é a fonte de virtude: o desejo que ela inspira consome a excitação. Mer­gulhar nela devolve a castidade. Ela é estéril, pois detém a roda do tempo.
 
 Ou, melhor, é ela que se­meia o homem: volta a pari-lo, nele reintroduz a in­fância do mundo. Ela o devolve ao seu trabalho de homem, que é elevar-se o máximo possível acima de si mesmo. Dizem super-homem, não dizem supermulher, porque a mulher, a verdadeira, é aquela que faz o homem mais do que ele é. A ela, basta-lhe existir para ser, plenamente. O homem deve passar por ela para passar ao Ser, a menos que escolha outras ascendes, onde ainda voltará a encontrá-la, sob formas simbólicas. Unir-se a ela re­quer a benevolência de Deus… Que estranho encon­tro! Ela aparece bruscamente no rebanho das falsas mulheres, e o homem favorecido que a vê se põe a tremer de desejo e de temor.

“Tudo vai mudar, chega desse jogo

Vejo, das meninas os seios desabrocharem

E, às vezes,  meu ventre fremi

Como um sol quente que esquenta a pele...

Você  me aquieta e eu o admiro

Com esses poderes sacrossantos

que receia me mostrar

reprimindo a vontade de vir a mim

pensando que eu sou

a "Madrasta da Branca de Neve"....


"DEDICO A VOCÊ QUE MORA NA "ILHA BELA"....



Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

3 comentários:

  1. Vivo in "Bella Penisola" ma non ho poteri sacrosanti, perché sarei già venuto a prenderti.

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  2. Quando il cielo è bello, ci affrettiamo ad essere felice e, per coloro che hanno sofferto nella carne che ha sofferto, «ho fretta di conoscere la vera felicità"

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