sexta-feira, 20 de março de 2015

FEMINICIDIO... PARA QUE?...

 
Pergunto-me isto todos os dias, por amar e nunca ter tido o "meu ser amado" junto a mim... Tenho confiança e medo mas, hoje em dia não se sabe o que é certo ou errado, de tanta vontade de ser amada, poder amar, sem medo, sem fronteiras... Ser feliz pela simples alegria de confrontar o amor, o companheirismo à visão de se lutar por um mundo melhor... De poder acreditar de verdade, sem medo e com a certeza de que o amor existe de verdade.

Costumam chamar de "crimes passionais" casos que teriam sido movidos por amor. Não são. Amor não mata; o que mata é a sensação de poder que o ex-parceiro tem sobre a vítima

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde e do Mapa da Violência, o Brasil é o sétimo país com maior incidência de assassinatos de mulheres. São dez homicídios por dia. Ao abrir qualquer jornal, você verá notícias de algum caso "do dia". O de hoje é de Rebeca, uma jovem paulistana de 21 anos que foi atacada na academia na tarde de ontem pelo ex-namorado, com quem havia terminado o relacionamento na segunda-feira.

A imprensa costuma chamar casos como o de Rebeca "crimes passionais", como se eles tivessem sido movidos por amor. Não são. Amor não mata; o que mata é a sensação de poder que o ex-parceiro tem sobre a vítima. O criminoso tem certeza que a vítima lhe pertence. "Se ela não for minha, não vai ser de mais ninguém." É a completa desumanização da mulher, transformando-a em um objeto sobre o qual alguém tem propriedade, pelo simples fato de algum dia eles - proprietário e objeto - terem sido um "casal".

Dizer que um homicídio tem caráter passional não serve de nada ao direito, posto que o tipo penal não reconhece a "paixão" como motivo para um assassinato. Pelo contrário: a pena pode ser aumentada se for reconhecido que o réu agiu com motivação torpe ou fútil, ou ainda sem dar possibilidade de defesa à vítima. Tramita hoje no Congresso o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher, que no seu relatório final tipifica o feminicídio, com pena de reclusão de 12 a 30 anos para assassinatos de mulheres com circunstâncias de violência doméstica ou familiar, violência sexual, mutilação ou desfiguração da vítima.

Porque os "assassinos passionais" não apenas matam suas vítimas. Eles fazem questão de torturá-las, como fez Sérgio Pereira, que ateou fogo ao corpo da ex-namorada Fabrizia. Depois de um ano passando por diversas cirurgias e tratamentos, Fabrizia faleceu em agosto.

O ódio presente nos crimes que dizem serem movidos por amor é evidente. Além do uso de artifícios cruéis, como no caso de Fabrizia e na própria Maria da Penha, 6,2% dos assassinatos de mulheres são por estrangulamento/sufocação, enquanto 26% são por objeto cortante ou penetrante. Facadas.

Mas a quem interessa dizer que tal crime é passional, que o réu estava sofrendo com a rejeição, ou que ele não conseguia enxergar a própria vida com a ausência da mulher amada? Com esse discurso, coloca-se o feminicídio como sendo de ordem privada; "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Assim, afasta-se a necessidade de uma discussão geral e mudança social acerca destes crimes. Parece que havia algo entre os dois que justificaria o assassinato, a tortura, a violência. Lavamos as mãos e fingimos que, se chegarmos muito perto, estaremos invadindo a privacidade daquele casal.

Um casal que não existe mais; primeiro porque a mulher quis sair, segundo porque ela foi morta por quem um dia confiou.

O machismo mata e traz diariamente notícias sobre crimes contra a mulher. Um relatório analisa de perto casos emblemáticos, como o do estupro coletivo e assassinato em Queimadas, na Paraíba. Na imprensa, poucos casos aparecem. Geralmente de mulheres brancas, jovens, de classe média, quando, se 61% das mulheres assassinadas são negras. A própria imprensa inviabiliza outros recortes sociais que são vistos no feminicídio.

Amor não mata. Machismo, sim.
O amor não corrompe, promove o amor.
Estar amando é colocar o seu coração a fazer terapia se prazer, de conhecimento, de poder amar sem fronteiras....
.... Porque, lá no fundo do meu coração, "o amor é lindo", por não ser um jogo, e sim duas pessoas que se doam mutuamente, ajudam-se a apaziguar às mazelas da vida e sem medo de deitar na cama, dizendo a si mesma: - Hoje eu amarei, serei amada, pois vivo em um paraíso que nós criamos na verdade.
 
 
 
Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetiza & Freelance

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