quinta-feira, 9 de outubro de 2014

DEMÔNIOS ISLÂMICOS

Ultimamente sinto o estômago revirando com náuseas, quando escuto qualquer coisa sobre os satânicos homens islâmicos e toda sua corja de monstros assassinos. Eu me senti péssima vendo decapitarem um jovem jornalista com uma faca de serra... E o que se seguiu depois... Não dá para exprimir aqui o que senti por aquele monstros, que só sabem atrapalhar a paz, daquele lado do mundo, pois eles não têm amor a si mesmos pois suicidam, cheios de bombas, amarradas em seus corpos, além de matarem outras pessoas também. O Deus deles não é o meus Deus que mandou "crescer e multiplicar".
 
 Mas aqueles porcos imundos não multiplicam, subtraem e ainda dividem um corpo humano em mais pedaços. Suponho que eles não seguem a Deus e sim ao Demônio. Estes assassinatos têm me causado pesadelos e um apêrto no coração, ao assistir tanta monstruosidade, tirania, falta de civilização. Gente assim não merece um lugar do mundo e sim no mármore do inferno. Alá ou Maomé... Seja lá como eles se contactam com Deus, pois eu duvido que o meu Deus fizesse tanta maldade, pois ele é amor e sabedoria. Pode existir um niilismo de talho teocrático? Sem dúvida é um autêntico oximoro, com notáveis méritos para fazer parte dos grandes opostos da linguagem.
 
 Pareceria que a exaltação até o paroxismo da transcendência espiritual, não pode desembocar no nada absoluto, como se tentássemos juntar Santa Teresa de Jesus e Nietzsche, e pretendêssemos não afundar na intenção. O filósofo alemão gostava de dizer que vivia no abismo permanente e, em troca, os grandes místicos, asseguram viver na plenitude. É, talvez, a plenitude espiritual uma outra forma de abismo? Seja como for, não pareceria fácil juntar ambas as construções mentais se não fosse pelo fato, de que sobre a filosofia está a realidade, e esta sempre supera as expectativas.
 
 Hoje, o fenômeno ideológico mais sério, mais trágico, mais perigoso e, sem dúvida, mais letal que atua no mundo, encontrou a fórmula para somar o amor a Deus com o amor a nada, e a partir do nada, considerar que a vida não tem outro valor que o valor de tirá-la. Os guerreiros do islamismo jihadista, treinados numa cultura de ódio e morte, são niilistas de manual, autênticas encarnações do vazio absoluto e, no entanto, sua linguagem, sua liturgia, seu cenário é, todo ele, religioso. Em certo sentido são os anti-heróis do homem que Albert Camus procurava em Os justos, que não duvidam como duvidava seu personagem Kaliayev, mas como trêmulos de Stepan, matam e morrem sem nenhuma fratura interna. Sem pergunta alguma.
 
 Sem alma. Certamente, trata-se de uma socialização da morte como paradigma, e só a partir dessa socialização, se pode entender a essência do fenômeno e se pode calibrar sua enorme dimensão. Nestes últimos meses, alguns colegas, que até agora consideravam pessoas que escrevem, e interessadas no jihadismo islâmico há anos, como uns demagogos, ou uns alarmistas sem fundamento, ou talvez diretamente agentes infiltrados do Mossad — como esses vendedores de santos de Olot1, que Pere Calders assegurava que eram espiões japoneses —, estes notáveis colegas acabam de ver a luz e descobrir a ameaça. E qual cogumelos depois da chuva,Aaparecem sob as árvores e enchem os microfones de sisudas explicações que, dando-as, conseguem dar todas as respostas que alguns de nós levaram anos procurando.
 
 Para problemas complexos, soluções simples, diz o catecismo do bom populista, e deve ser um catecismo muito lido nas cátedras universitárias. Porque se o jihadismo fosse explicado com os argumentos que ouvi estes dias até à saciedade, especialmente na boca dos intelectuais orgânicos do progressismo, a coisa seria de rir, enquanto choramos de pena. De entrada, e como era de se esperar, parece que o terrorismo islâmico não é mais que uma reação violenta ao imperialismo ianque, que certamente é o responsável por todos os males que envolvem o mundo islâmico.
 
 Ao mesmo tempo, o islã não é culpado de nada, só de sofrer durante décadas e finalmente sobrelevar-se. Todo o enfoque perverso nasce do Ocidente, e todo o vitimismo paternalista se aplica ao Oriente, com a clássica visão benemérita para com o terceiro mundo de Quico o progressista. Projetada a visão maniqueísta, o planeta divide-se entre as responsabilidades americanas, a lassidão europeia, que vive sem viver nela, e os pobres países do islã. Certamente, explica-se o fenômeno em termos de pobreza, marginalização e desespero. Assim enquadram os suicidas do Hamas palestino, os adolescentes treinados nos campos do Hezbolá, os iraquianos degoladores de pessoas e até os suicidas que aparecem pelo sudeste asiático.
 
 Trata-se de esboçar partes tópicas para organizar um quebra-cabeça que não rompa nenhum dos esquemas da correção política. Bem. Como estou aqui para incomodar, e tenho a mania de analisar a questão desde há décadas, me permitirei alguns matizes sensivelmente corretores do dogma progressista sobre o sadismo. Primeiro, o fenômeno, como ideologia de massas em sua versão moderna, nasce na década de 1920 na Universidade do Cairo, quando nem existia Israel, nem os Estados Unidos pintavam nada. Os grandes ideólogos foram condenados à morte logo em seguida, mas seus seguidores, egípcios e sírios em sua maioria, distribuíram-se pela Europa e foram acolhidos por belos países como a Suíça e a Inglaterra, que viam neles uma clara oposição aos regimes de estilo soviético.
 
 Logo receberam dezenas de milhões de dólares dos Emirados e da Arábia, e sua atividade, sua logística, seus centros de estudos, seus mitos e toda a parafernália do fundamentalismo islâmico cresceram com extraordinária rapidez, por todo o âmbito muçulmano. Quando, em 2001, à raiz do 11 de Setembro, foram congelados os fundos que financiavam o fenômeno a partir da Europa, os bancos islâmicos implicados tinham décadas de atividade. Não há espaço neste artigo, para recordar o que significou a guerra fria, mas não se pode explicar o fundamentalismo islâmico sem falar da União Soviética. Ou sem falar do terrorismo iraniano, que matou dezenas de pessoas na Argentina. Ou sem falar do papel das ditaduras do petrodólar, ativas no financiamento de uma visão extremista do islã. 
 
Quando, na Palestina, começaram a doutrinar crianças para a morte, nas colônias de férias financiadas pelo Irã e, em seu momento, o Iraque, ninguém quis ver o fenômeno como o que era: a derivação palestina do niilismo extremista, um niilismo que superava a ideia de um Estado palestino, para abraçar diretamente a república islâmica. E tivemos Bali, Beslam, Quênia, Turquia, centenas de mortes até chegar ao primeiro atentado na Europa, Madrid, 11 de Março. Pelo caminho, Bush cometeu o grave erro de perpetrar uma guerra inútil. Mas para chegar a Atocha, o fenômeno havia atravessado mares e tinha se globalizado. Em resumo acelerado: não é uma ideologia de pobres, mas profusamente financiada.
 
 Não é uma ideologia dos marginalizados, ainda que use a marginalização como munição. Não é uma ideologia libertadora, senão tudo ao contrário: seu objetivo é o domínio integral do ser humano. Não pretende libertar povos, mas criar uma única Emma muçulmana. E, ainda que seja difícil de digerir, não nasce da maldade americana, porém muito antes, de um olhar regressivo, medieval e fundamentadamente antilibertário do próprio islã. Usa os erros do Ocidente, mas nasce de seus próprios monstros.
 
Tudo isso, e mais, interage no fenômeno, e sem entender a complexidade de décadas, as únicas coisas que conseguiremos serão algumas partos mentais, desses que caem tão bem nas tertúlias progressistas, simpáticas, politicamente corretas e totalmente inúteis. Agora eles estão querendo ficar mais fortes ainda, recrutando rapazes do muito inteiro. O que eles jogam como isca para atrair um perfeito cidadão, de mente sã, eu não compreendi ainda e, compreendo ainda menos, quando Deus enviou seu próprio filho para nascer no meio de uma escória tão grande. Suponho que o céu de lá não deve ser azul, e sim infestado de aves de rapina; para comer os mortos, abatidos por uma ave de rapina muito mais demoníaca.



Texto de: JUSSARA SARTORI
Escritora, Poetisa & Freelance

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