quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

HOMENS E DEMÔNIOS


Homens com rostinho de anjo, esbanjando autoestima e amabilidade, educação de invejar a Deus que o criou. Considero estes os piores narcisistas, vestindo a fantasia do pior femicida do mundo, da sociedade em que vive. Nem preciso voar sobre o Atlântico para chegar à Europa e a Ásia. Por aqui mesmo temos sinais de que eles existem; como o caso de Renata, que era constantemente humilhada pelo parceiro com quem ficou durante anos. Quem não se lembra do caso da adolescente Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, morta a tiros pelo ex-namorado, Lindemberg Alves Fernandes, em 2008? E da cabeleireira Maria Gislaine de Morais, de 31 anos, assassinada pelo ex-marido no ano passado? As imagens, gravadas pela câmera de segurança de seu salão, correram o País. De acordo com especialistas, é possível enxergar alguns sinais de que a violência está virando rotina para um casal. O problema é que, no auge da paixão, é mais fácil justificar um ato agressivo do que encará-lo como tal.

“Os sinais já são uma violência por si só. O parceiro que grita, humilha ou dá um empurrão já está agredindo. É preciso ficar atento a estes gestos”, afirma a psicóloga Margareth Volpi, mestre em terapia familiar e de casais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ela enumera algumas ações que não deveriam fazer parte de um relacionamento saudável. “Quando há proibições unilaterais, ou seja, sem diálogo, é muito ruim. O proibir porque simplesmente não quer, sabe? Pode ser uma roupa mais curta ou ter amigos do sexo oposto. Também é preocupante quando há uma relação de ‘propriedade’ no relacionamento. Ninguém pode ser dono de outra pessoa.” Os jovens são as maiores vítimas de homens controladores

A psicanalista e professora do departamento de psicologia da PUC do Rio de Janeiro Junia de Vilhena explica que há uma maior quantidade de homens violentos do que mulheres, mas que isso não significa que elas não existam. “Homem tem mais vergonha de denunciar, mas muitas namoradas ou esposas são controladoras e agressivas. Independente do sexo do agressor, o mais impressionante é que o ciúme ou o amor possa ser visto como um motivo para se matar alguém. São os chamados crimes sob violenta emoção. Isso é inadmissível. Amor é uma coisa boa. Jamais uma justificativa para um crime.” Mas a maioria dos homens fingem amor, presenteiam uma docilidade que encobre o ódio, o rancor desvairado....

A roteirista Renata Corrêa, 28, assume que ficou presa em um namoro agressivo durante anos. Ela conta que estava muito apaixonada e não conseguiu ver que os episódios de fúria se tornavam cada vez mais frequentes. “Ele nunca me bateu, mas quebrou a porta da casa da minha mãe a pontapés. Depois disso eu vi que precisava colocar um ponto final no relacionamento, só que mesmo assim foi complicado. Eu me sentia culpada. Achava que ele estava doente e que eu tinha obrigação de ajudá-lo”, lembra. Renata, como tantas outras, era humilhada constantemente pelo parceiro, mas achava que ele nunca mais ia repetir a violência verbal. Ela conta que quando estava desempregada e morava com o namorado, a maneira como ela lavava a louça era motivo de gritaria. “Ele ficava muito bravo porque eu colocava a faca para secar com a ponta para cima. O correto, segundo ele, era para baixo. Hoje eu consigo ver que aquilo não era normal, mas na época tinha certeza que era algo passageiro.”

“Muitas mulheres, infelizmente, possuem uma certa capacidade de tolerar atos violentos e de achar que as coisas vão mudar. Na maioria das vezes, quem fica num relacionamento assim tem uma atitude de autossacrifício. Faz tudo pelo outro e esquece as suas necessidades”. Foi exatamente isto o que aconteceu comigo. Minha vontade se ser mãe era tanta que fui relevando tudo (humilhações, agressões físicas e psicológicas....)
Uma em cada dez brasileiras já apanhou de um homem. 10% dos homens dizem que já sofreram violência de alguma mulher. Hábitos femininos que tornam mulheres vulneráveis à violência.

Uma mulher da sociedade paulistana, que não quis se identificar, descreve cenas de terror que faziam parte da sua rotina: “ele jogava facas na minha direção, arrancava brincos da minha orelha e me batia constantemente. Eu tinha muito medo dele me matar nestes momentos. Depois ficava super romântico e prometia que nunca mais nada daquilo ia acontecer. Jamais passou pela minha cabeça denunciá-lo.” (Mas pela minha, depois de não aguentar mais, ter quase morrido para ter os dois filhos que almejava, fui à Delegacia de Mulheres. Foi o dia mais humilhante sa minha vida, ter que relatar todo um relacionamento cheio ataques físicos, psicológicos, femicidas

“Nos primeiros quatro anos que estávamos juntos eu via que ele tinha rompantes de violência, mas depois ele dava a entender que tudo não passava de uma brincadeira,para se justificar com as pessoas.(Todos o julgavam um primor de homem) Era normal ele me humilhar em público e dar um jeito de falar que era minha culpa (beijando outras mulheres na boca, como se eu não estivesse presente; era muita humilhação!) Eu não tinha ação. Acho que fui ficando insensível e aceitava tudo como se fosse normal.” Eu era completamente controlada por ele. “Não tinha amigos nem vida social. Ele nem precisava estar presente. Eu sabia que ele não queria que eu conversasse com homens no trabalho, então eu não fazia.” Acabei por perder o meu emprego, onde ganhava quatro vezes mais do que ele que era um economista.

A mulher paulistana entrou em depressão profunda depois do fim do relacionamento. Ela acreditava que justamente por ter sofrido tanto para ficar com o namorado a relação dos dois duraria para sempre. “Só quem passa por isso consegue entender algo tão irracional assim. Precisei de ajuda psicológica para voltar a ser quem eu era antes de conhecê-lo.”

Não existe, ou existe muito pouco, a classe de homem cuja índole é perfeita desde o nascimento. Engana-se quem acredita que haja uma categoria mais suscetível a este tipo de relacionamento. O entendimento atual, entre profissionais que acompanham diariamente em seus consultórios casos assim, é que não importa o grau de escolaridade ou a independência financeira. “Quem pensa que só há violência entre casais nas classes menos favorecidas está errado. O que acontece é que nas classes mais elevadas o nível de privacidade é maior. Suas casas são mais isoladas e os vizinhos estão mais distantes” e as pessoas não podem ver nem escutar...

Quase todas as mulheres agredidas afirmam compreender porque tantas mulheres aguentam uma rotina de agressão por anos sem denunciar seus parceiros. A analista de marketing explica que uma situação tão extrema, como sofrer violência dentro de sua própria casa, afeta a maneira de ver a realidade. “Você não ouve ninguém. Não tem para quem recorrer porque ele te força a perder o contato com todos os seus amigos e familiares. Eu não conseguia ver que podia ir embora. Achava que a única solução era a morte. Pensava constantemente em suicídio, tomando rios de calmantes”... 
 
Boba de quem pensa que ainda que sempre existe a esperança de que tudo vai passar: “essa certeza faz a gente passar os dias à espera dessa mudança que não vem nunca (eu quase morri) Hoje, creio, que achei meu "amor perfeito". Peço a Deus que ele seja perfeito mesmo pois não aguentarei passar por tudo de novo; dói por dentro e dói por fora; você se sente sem forças para lutar. Por isto lhes digo, minhas amigas: - Façam o que escrevo de bom, de conselho, mas não façam o que fiz, aguentando tanto sofrimento e humilhação... Sabiam que príncipes existem? Eu tenho um...



Testo de: JUSSARA SARTORI
Escritor, Poetisa & Freelance

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