quarta-feira, 21 de novembro de 2012

QUANDO NÃO DÁ MAIS, SAIA DE CASA, SALVE-SE!

A metade das mulheres do mundo é vítima de algum tipo de violência. O mais sinistro é que elas são agredidas dentro de casa. A tragédia não faz distinção entre ricos e pobres, mansões ou casebres. A diferença é que quanto mais alto é o nível socioeconômico da vítima, mais elas sufocam seus gritos, sujeitando-se a viver em um inferno escaldante a denunciar pai, mãe, marido, namorado, companheiro, continuando amorar junto ao parceiro violento.

Li uma reportagem na revista Marie Claire que me deixou a pensar que eu já havia passado por situações parecidas e não fui capaz de lutar. Hoje estou só, mas falemos da história de Ana, nossa protagonista, uma bem-sucedida secretária de São Paulo: com 32 anos mas aparentando menos - magra, rosto delicado com uma expressão quase infantil sempre que sorri. Posso até dizer que é notável que uma mulher bonita, de classe média alta tenha uma história de dor, por violência doméstica e tenha coragem para contar.

Desde muito cedo acostumou-se a presenciar a briga dos pais - um horror de gritos, choro e objetos voando pelos ares. A atingir a maioridade (18 anos), fugiu de casa para escapar das ameaças de surras de sua mãe. Manter-se sozinha, com dignidade e honra não foi fácil. Alugou um quarto, conseguiu um emprego e estudava. Era uma rotina solitária... Igual a que levo hoje.

Um dia conheceu Alberto, um homem viúvo, 14 anos mais velho e com uma família já formada (com três filhos). E o homem maduro, protetor a conquistou, fazendo seu coração
bater mais forte e sentir vontade de se casar com ele e construir uma nova família.

Alberto pertencia a uma conhecida família de políticos; já o havia visto algumas vezes. Numa delas foi para entrevistá-lo para um trabalho da escola quando ele assumiu um cargo público. Ele tinha 1,90m de altura, olhos verdes e um sorriso encantador. (Isso também me aconteceu. A pessoa que se mostrava uma pérola para todos era um verdadeiro demônio em casa; não sei como consegui naquela época). Muito mais experiente sabia como usar seu charme com mocinhas. (É o que acontece com todos os homens com índole má, que vivenciam fatos maus em sua infância que repercute na sua idade adulta - é uma espécie de loucura, esquizofrenia). Começaram a se ver e ele sempre lhe trazia flores e chocolates Só que no meu caso ele tinha a mesma idade e não era nem um pouco romântico. Nunca ganhei dele um botão de rosa vermelha, que é o meu preferido)

Mas ela ainda se lembrava amargurada das brigas com sua mãe. No dia em que saiu de casa sua mãe havia lhe batido, chegando a pisar no seu pescoço. Por ter vivenciado essa violência ficou uma pessoa arredia e com baixa auto-estima. Achava que não merecia ser amada ( Os muitos maus-tratos que recebemos faz com que nos sintamos repudiadas e com terror do sexo oposto). Mas diante do imenso carinho de Alberto durante oito meses de namoro, eles se casaram.

Ana assumiu os três filhos dele como se fossem seus, apesar de ser bem jovem; Fábio, de 11 anos, Henrique, de 06 anos, e Ana Carolina de um ano. Se para muitas mulheres essa circuntância poderia ser uma situação desencorajadora, ela viu nessas crianças um atrativo. Ana estava bem profissionalmente. Era secretária executiva de uma grande empresa; fazia viagens internacionais para acompanhar os diretores e cursava Letras.

Mas essa situação não agradava a Alberto pois as mulheres de sua família não trabalhavam fora de casa. (Hoje em dia ainda existem muitos, ou mesmo a maioria, que são retógrados e não dão o real valor à capacidade e inteligência da mulher. Lembro-me quando trabalhava e também era secretária executiva, ainda me sobrava algum tempo para montar os trabalhos dele de faculdade). Ela pensou que por seu marido ser gaúcho e descendente de italianos, pensou que esses pensamentos conservadores faziam parte de sua cultura (Mas não é isso: quando duas pessoas se amam verdadeiramente não existe cultura, religião e outros preceitos e preconceitos que os separe; o amor sempre fala mais alto).

Alberto passou, então, sutilmente, a levá-la e buscá-la no trabalho e na faculdade; quando alguém ligava para a casa deles sempre dava um jeito de brigar com as crianças para que ela desligasse o telefone...  Seis meses depois Ana trancou a matrícula na faculdade. Pensou que ele melhoraria mas não adiantou. Quando chegou o Plano Collor o seu salário ficou congelado e Alberto, gentilmente,  sugeriu que ela largasse o empreso.

Foi quando o inferno baixou em sua vida de vez. Viu como o marido era agressivo com os filhos e essa agressividade aumentou mais ainda para agredí-la. Era u pesadelo que voltava (ela podia escutar os gritos de sua mãe). O tempo foi passando e Ana foi ficando cada vez mais dependente de Alberto. Seus enteados a adoravam, principalmente a menina. Alberto faliu. Nessa altura Ana já havia assumido totalmente às crianças. E o tratamento deles para com os pequenos só piorava. Quebrava vassoura nelas, jogava panelas e outros objetos; gritava muito.

Ela recomeçou a trabalhar. Certa noite a menina apareceu com febre e não parava de chorar. Ele se trancou no quarto por três dias com a filha e não adiantava os pedidos (para ele sair e chamar um médico) dela. Saiu quando Ana deu a ele um ultimato que se não abrisse a porta chamaria à policia. Alberto desapareceu com a menina, indo para a casa de sua mãe. Daí por diante a situação piorou muito. Ana olhava para ele e tinha medo (como aconteceu comigo) do que via. Voltou também a estudar. Alberto continuou espancando às crianças e dizia que fazia isso por causa dela. A jovem esposa pensou estar ficando louca e percebeu, lentamente, que ele havia destruído o amor que havia dentro dela. DECIDIU, ENTÃO, A SAIR DE CASA.

                                                                                               JUSSARA SARTORI

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